A estrutura do conto
Histórico
A origem do conto está na transmissão oral dos fatos, no ato de contar histórias, que antecede a escrita e nos remete a tempos remotos.
O ato de narrar um acontecimento oralmente evoluiu para o registro escrito desta narrativa. E o narrador também evoluiu de um simples contador de histórias para a figura de um narrador preocupado com aspectos criativos e estéticos.
É no início da Idade Moderna que o conto se consolida como literatura.
Três livros são considerados os precursores do gênero: As mil e uma noites, Canterbury Tales, de Chaucer, e O Decamerão, de Giovanni Bocaccio. Estes títulos apareceram no Ocidente no século XIV e disseminaram-se pelo mundo nos séculos XVI e XVIII.
Um momento de grande desenvolvimento do conto foi o século XIX, devido à acentuada expansão da imprensa que permitiu a publicação dos textos.
Algumas características comuns acabaram por agrupar as várias formas de narrar e isso aproximou o conto de um gênero literário. Este novo gênero foi identificado pela primeira vez nos EUA, por volta de 1880, e designado Short Story.
Posteriormente, o conto evoluiu de sua forma tradicional, na qual a ação e o conflito passam pelo desenvolvimento até o desfecho, com crise e resolução final, para as formas modernas de narrar, na qual a estrutura se fragmenta e subverte este esquema. Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant e Anton Tchekóv, são alguns dos contistas clássicos que mais influenciaram as formas modernas do conto.
Definição
A palavra conto quer dizer:
1. Narração falada ou escrita de um acontecimento.
2. Narração de uma história ou historieta imaginadas.
3. Fábula.
1. Narração falada ou escrita de um acontecimento.
2. Narração de uma história ou historieta imaginadas.
3. Fábula.
Os estudiosos da teoria do conto se dividem em duas correntes: A dos que aceitam definições e a dos que não aceitam. Mas mesmo os que as aceitam concordam que definir conto não é tarefa fácil. O escritor e contista Júlio Cortázar afirma que o conto é "um gênero de difícil definição, esquivo nos seus múltiplos e antagônicos aspectos".
No estudo “Teoria do conto”, Nádia Battella Gotlib, "cola" as impressões de diversos estudiosos do conto e chega à seguinte equação:
O segredo do conto é promover o seqüestro do leitor, prendendo-o num efeito que lhe permite a visão em conjunto da obra, desde que todos os elementos do conto são incorporados tendo em vista a construção deste efeito (Poe). Neste seqüestro temporário existe uma força de tensão num sistema de relações entre elementos do conto, em que cada detalhe é significativo (Cortázar). O conto centra-se num conflito dramático em que cada gesto, cada olhar são até mesmo teatralmente utilizados pelo narrador (Bowen). Não lhe falta a construção simétrica de um episódio, num espaço determinado (Matthews). Trata-se de um acidente de vida, cercado de um ligeiro antes e depois (Oiticica). De tal forma que esta ação parece ter sido mesmo criada para um conto, adaptando-se a este gênero e não a outro, por seu caráter de contração (Friedman). Este é um lado da questão teórica referente às características específicas do gênero conto.
Os gêneros da prosa
Os gêneros mais difundidos da literatura em prosa são o romance, a novela e o conto. A maneira mais fácil, e talvez a mais precisa, de distingui-los é pelo tamanho.
· romance: narrativa longa com multiplicidade de efeito, na qual o clímax encontra-se antes do final;
· novela: narrativa média com multiplicidade de efeito, que termina num clímax;
· conto: narrativa curta com unidade de efeito, que termina num clímax. Segundo Ítalo Moriconi "Pelos critérios atuais, pode-se dizer que um conto é uma narrativa de no máximo 20 a 25 páginas".
A brevidade do conto
Considerando que o conto é o gênero de menor tamanho, a questão da brevidade é fundamental na sua construção. Nas palavras de Anton Tcheckov "é preferível não dizer o suficiente do que dizer demais". Portanto, é importante limitar o número de personagens e episódios, eleger os detalhes primordiais e evitar explicações em demasia.
· Economia dos meios narrativos: Uma fórmula para a brevidade seria conseguir o máximo efeito com o mínimo de meios. Tudo que não for primordial para alcançar o efeito desejado – toda a informação que não convergir para o desfecho – deve ser suprimido.
Intensidade
Outro aspecto fundamental, além da brevidade é a intensidade. Há duas metáforas criativas e precisas, criadas por Júlio Cortázar, que definem bem a questão:
O conto está para a fotografia como o romance está para o cinema.
No conto o autor vence o leitor por nocaute, enquanto no romance a luta é vencida por pontos.
· Unidade de Efeito: Uma narrativa só é suficientemente intensa a ponto de causar impacto no leitor se tiver unidade de efeito. Para alcançar esta unidade é preciso que o autor tenha em mente, durante a construção do conto, que efeito deseja causar no leitor. A concisão tem importância fundamental para se conseguir essa unidade.
· Significação: Como na fotografia o conto necessita selecionar o significativo. Uma narrativa só se torna significativa quando transcende a história que conta abrindo-se para algo maior.
· Tensão: A tensão é uma forma diferente de imprimir intensidade à narrativa. Em vez de os fatos se desenrolarem de forma abrupta, o autor vai desvendando aos poucos o que conta, usa a técnica do suspense, adia a resolução da ação e instiga a curiosidade do leitor.
Temática
Pode se dizer que a temática do conto é praticamente ilimitada. Quase tudo pode ser objeto para um conto. Mas em princípio a idéia de conto está ligada ao acontecimento. É preciso que algo aconteça, mesmo que o acontecimento seja o nada acontecer.
· Momento especial: É importante que exista algo especial na representação daquele recorte da vida que gera o conto, o flagrante de um determinado instante que de alguma forma interesse ao leitor. Seja pela novidade, pela surpresa, pelo inusitado, pelo cômico ou pelo trágico de uma situação.
· O conto de acontecimento: As formas originais e tradicionais de narrativa estão ligadas ao acontecimento, ao fato.
· O conto de atmosfera: As formas modernas de narrativa instituíram a investigação psicológica das personagens e não apenas acontecimentos pontuais.
· Combinação: Aliar os recursos tradicionais com aqueles que vão surgindo é uma boa forma de combinar tradição e modernidade. A narrativa ganha qualidade quando mistura os acontecimentos à investigação psicológica das personagens que os vivenciam ou presenciam.
Desfecho
Todo o enredo deve ser elaborado para o desfecho, cada palavra deve confluir para o desenlace. Só com o desfecho sempre à vista é possível conferir a um enredo o ar de conseqüência e causalidade.
Projeto
Planejar a construção da obra, tendo em vista um efeito predeterminado, pode ajudar. Mas nem toda obra se faz por meio de um processo mecânico. Há textos que simplesmente fluem e estão maduros antes mesmo de chegarem ao papel.
Fragmento
Seguindo a linha de raciocínio de Júlio Cortazar, quando ele compara o conto à fotografia, concluímos que o conto se caracteriza por seu teor fragmentário, uma vez que capta o presente, o momentâneo, o instante temporário, sem antes e sem depois.
O conto e o teatro
"Sem conflito não há teatro" é uma idéia bastante difundida em dramaturgia. A semelhança entre a estrutura do conto e do teatro é exatamente esta, o conflito dramático, fundamental em ambas as formas. Assim como o conflito é a alma de um texto teatral, a crise é primordial na construção do conto também.
Cronologia
Ao contrário do romance, o conto não tem nenhum compromisso em situar cronologicamente os fatos.
Conclusão
Esqueça tudo que você leu até agora e pense... pense... pense... Escrever contos é um exercício constante de reflexão. Definições e regras para se escrever contos são encontradas em diversos manuais que, de certa forma, são responsáveis pela estereotipagem do gênero e sua conseqüente degradação. Por isso, a necessidade de romper com as camisas-de-força que pretendam enquadrar qualquer manifestação artística, romper com definições rigorosas e libertar a produção de contos do excesso de regras que limitam a criatividade e a inovação.
Os contistas e sua opinião acerca do gênero
Alex Gennari: "Se no conto o autor vence o leitor por nocaute, enquanto no romance, vence por pontos; no microconto, o nocaute acontece logo no primeiro assalto! Para tanto, o autor deve ser tão fulminante com as palavras, quanto Mike Tyson era com as luvas em seus áureos tempos (...) Aliás, o termo ‘corruíra nanica’, soa muito melhor do que microconto. É mais criativo, menos acadêmico”.
Edgar Allan Poe: "No conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja ela qual for. Durante a hora de leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou interrupção”.
Júlio Cortázar: "Um conto é significativo quando quebra seus próprios limites com essa explosão de energia espiritual que ilumina bruscamente algo que vai muito além da pequena e às vezes miserável história que conta (...) o tempo e o espaço do conto têm de estar como que condensados, submetidos a uma alta pressão espiritual e formal para provocar essa 'abertura'“.
Boris Eikhenbaum: "Short Story é um termo que subentende sempre uma história que deve responder a duas condições: dimensões reduzidas e destaque dado à conclusão. Essas condições criam uma forma que, em seus limites e em seus procedimentos, é inteiramente diferente daquela do romance”.
J. Berg Esenwein: “O conto é uma narrativa breve; desenrolando um só incidente predominante e uma personagem principal, contém um assunto cujos detalhes são tão comprimidos e o conjunto do tratamento tão organizado, que produzem uma só impressão”.
José Oiticica: "[que o conto] seja ou pareça-nos realmente um 'caso' considerado pela novidade, pelo repente, pelo engraçado ou pelo trágico”.
Anton Tcheckov: "Em contos, é melhor não dizer o suficiente que dizer demais”.
Machado de Assis: "O tamanho não faz mal a esse gênero de histórias, é naturalmente a sua qualidade”.
Horácio Quiroga: "O conto literário consta dos mesmos elementos que o conto oral e é, como este, o relato de uma história bastante interessante e suficientemente breve para que absorva toda a nossa atenção”.
Alceu Amoroso Lima: "O tamanho representa um dos sinais característicos de sua diferenciação. Podemos mesmo dizer que o elemento quantitativo é o mais objetivo dos seus caracteres. O romance é uma narrativa longa. A novela é uma narrativa média e o conto é uma narrativa curta. O critério pode ser muito empírico, mas é muito verdadeiro. É o único realmente positivo.”.
Deonísio da Silva: "Os homens têm sido contistas desde priscas eras (...) Jesus foi um extraordinário contista, ainda que jamais tenha escrito um único e escasso livro (...) Criativo, inovador, o famoso nazareno inventou contos fascinantes. Basta dar uma olhadinha nas parábolas (...) São contos, por exemplo, numerosas narrativas bíblicas (...) O Pantschatantra, hindu, está cheio de contos. As mil e uma noites são um verdadeiro panegírico do gênero. O Edda, escandinavo, é uma reunião de contos. O Beowulf, teuto-bretão, também. As nossas lendas indígenas são contos. As anedotas e piadas são contos. A prosa popular é, pois, muito chegadinha a um conto”.
Ítalo Moriconi: "(...) a porosidade do gênero conto, a capacidade que o conto tem de confluir e confundir-se com gêneros próximos, como o poema em prosa, a crônica, a página de meditação, o perfil de uma personagem, a página autobiográfica (...) Pelos critérios atuais, pode-se dizer que um conto é uma narrativa de no máximo 20 a 25 páginas. A partir, daí já começam a ser franqueadas as dimensões e o ritmo narrativo daquilo que nossa tradição literária chama de novela ou noveleta.”.
[1] Gotlib, Nádia BattellaGotlib. Teoria do Conto – Editora Ática – 95 págs. – 1998
Silva, Deonísio. Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão – Editora Global – 192 págs. 2001
Pesquisa elaborada a partir de estudos do livro “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século” – Diversos Autores – Seleção: Ítalo Moriconi – editora Objetiva –618 págs. – 2000
De: joice.letras (joice.letras@bol.com.br)
Enviada: segunda-feira, 22 de agosto de 2011 21:28:48
Para: s1letras@hotmail.com (s1letras@hotmail.com);
Enviada: segunda-feira, 22 de agosto de 2011 21:28:48
Para: s1letras@hotmail.com (s1letras@hotmail.com);
De: joice.letras (joice.letras@bol.com.br)
Enviada: segunda-feira, 22 de agosto de 2011 21:28:48
Para: s1letras@hotmail.com (s1letras@hotmail.com);
"Olá, meu caros: Rodrigo (manhã) e Fernando (noite)
Estou reenviando o resumo do conto.
Obrigada!
Jóice"
Enviada: segunda-feira, 22 de agosto de 2011 21:28:48
Para: s1letras@hotmail.com (s1letras@hotmail.com);
"Olá, meu caros: Rodrigo (manhã) e Fernando (noite)
Estou reenviando o resumo do conto.
Obrigada!
Jóice"
Postado por Rodrigo P.
Nenhum comentário:
Postar um comentário